Qualquer fotografia, de qualquer pessoa, de quem eu conheço, de quem não conheço.
Quando eu vou na casa de algum amigo que eu ainda não tinha visitado, primeira coisa que faço é pedir pra olhar fotografias.
Aí vem aquele monte de álbum, albinho, albão, uns meio empoeirados, meio mofados, azar eu quase devoro.
Dou aquela tapada no nariz por causa da alergia e lá me vou, vasculhando os momentos da vida dos outros.
Adoro mesmo.
Sabe, eu fico imaginando o que que as pessoas tavam pensando naquele exato momento em que posaram ou apareceram na foto.
É muito legal ficar pensando nisso.
Tem sempre alguém que sai de bicão nas fotos, e eu me divirto procurando os bicões de fotos.
Aqui em casa tem um monte de fotografias, tanta gente que já foi clicado ao meu lado, que alguns eu nem lembro direito do nome.
Mas fazendo um esforcinho pequeno, eu lembro do nome, do dia que foi tirada a foto, do que aconteceu antes, durante e depois e mais alguns detalhes que normalmente ninguém se preocupa em pensar...
Essa sou eu, atenta, olhando tudo, pra não perder nada nem ninguém de vista.
Eu adoro olhas fotos antigas, dos casamentos antigos, com aquelas roupas do tempo do ariri pistola ou do guaraná de rolha, ou do tempo em que coca-cola era remédio pra prisão de ventre.
O sogro da minha irmã casou com a sogra dela vestindo um lindíssimo terno cor-de- rosa, e o meu sogro que casou com a minha sogra toda meiga num vestidinho branquinho, usando uma bata hippie com calça cor-de-rosa e com um cabeloso de dar inveja ao Mick Jagger?
Acho hilariante olhar fotos dos outros, é uma bela fonte gargalhadas, às vezes..tá, mas eu também adoro mostrar as minhas, quero compartilhar os meus micos com todo mundo pra que os outros possam rir também. Não seria legal eu só ficar tirando sarro dos outros, eu sei.
Sou justa né!
Fotos de quando a gente era pequeno também é massa: uns tinham um puta orelhão, outros com aquela remela grudada no olho, outro abrindo o maior berreiro, todo ranhento, uns bem gordinhos outros muito magrinhos, criança é tudo muito engraçado. Foto da gente pelado então, eu acho muito tri.Eu não tenho muita foto de quando eu era pequena, não sei, parece que eu andava meio que fugindo dos flashes. Uma vez um fotógrafo malandro foi até a minha casa e enganou a minha tia, que tava lá cuidando de mim e da minha irmã. Fez um monte de fotos nossas e depois obrigou o meu pai a comprá-las.
Ainda bem que a minha tia caiu no conto book fotográfico de brinde: senão eu não ia ter nenhum registro dessa época.
Eu não era orelhuda, nem ranhenta, nem remelenta: eu era magra, bem sequinha, mas bonitinha, com os cabelos cacheadinhos, com um macacãozinho do posto de gasolina, que eu nunca me esqueço. A minha irmã era coisa mais lindinha, com um cabelão preto comprido, linda mesmo, toda arrumadinha. São quase só essas fotos que a gente tem, da época em que morávamos no Rio de Janeiro.
Algum tempo depois, quando eu fui morar em Roraima, minha mãe passou na Zona Franca de Manaus e comprou uma máquina fotográfica. Nossa, era a glória, a gente tirava foto de tudo, bem deslumbrados. Mas aí ela teve a infeliz idéia de cortar o meu rico cabelinho, porque tinha preguiça de levantar de manhã e pentear antes de eu ir pra aula, e eu virei um gurizinho de saias. Tivemos até que furar a orelha, senão era certo que iam me confundir.
Tem foto dos meus pais, dos meus irmãos, dos meus sobrinhos, dos meus avós, de muitos amigos meus e do Cauê, dos meus sogros, das minhas cunhadas e do meu cunhado, da minha enteada e da minha ex-enteada, do meu cachorro, de mim e do Cauê quando éramos pequenos, dos nossos colegas músicos, tem foto de tanta gente aqui, cara, é uma loucura.
Na parede da sala tem foto dos meus sobrinhos, da minha banda, muitas minhas, muitas do Cauê e no corredor tem um imenso poster de nós dois com a fatiota de noivos, no dia do casório.
Eu fiquei olhando pra esses quadros e consigo saber exatamente a circunstância em que cada foto foi tirada: tem o meu pai e o meu irmão tocando pagode no shopping (a banda Café Tom Bom que não existe mais, mas foi a sensação do momento em 1997) tem o Cauê abraçado na Marina Lima, num show que a gente foi em julho de 2000, na nossa lua de mel. Tem a minha irmã tocando com a Elefante Hi Fi (antiga banda de rock que fez sucesso nos anos 90 em SL), tem o meu vô Murici e minha vó Lili abraçados no aniversário de 8 anos do Athos, tem eu e o Cauê no Café Concerto Magestic em 98, tem o Bambam usando um lencinho do PT na eleição de 2002 (Lula presidente), eu desfilando em 96 no falecido Sinos Shopping, minha mãe fazendo pose embaixo de uma árvore lá em Curitibanos, quando fomos visitar a tia Telma, uma fotos do Pedro, da Ana Paula e da Isa, quando eram bem picorruchos.
Sim, porque a vida é feita de momentos, e com tantos momentos felizes como esses que tão pendurados nas mihas paredes, eu não posso negar.
Inda bem que existem as fotos. Elas dão a oportunidade da gente rir, chorar, lembrar, enfim, eternizar as horas, os instantes em que a vida da gente vai acontecendo. Inda bem que, agora, existem as máquinas digitais, porque tava complicado ficar comprando filmes e mais filmes, pra tentar registrar essa loucura toda que é a minha vida...finalmente a tecnologia inventou algo realmente útil, sem efeitos colaterais...
Eu só tiro foto de momentos bons, pois é só desses que eu quero lembrar, rir ou chorar. E como as fotos podem durar pra sempre, que os sentimentos que elas trazem, sejam eternos tanto quanto elas.
essa foto foi tirada no aeroporto, 5 minutos antes de eu embarcar pra França em março de 2006.
Eu de bota, o Cauê de chinelo havaiana, a cara dele...
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