segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Um Mestre aos Oitenta

                                                                    Audálio Dantas                        Foto: Divulgação
 

AudálioDantas é brasileiro, alagoano, tem 80 anos e desses, 58 dedicados ao jornalismo. Um dos repórteres mais admirados e respeitados do Brasil, foi presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo e o primeiro presidente da Federação Nacional dos Jornalistas, além de deputado federal, por um mandato. O jornalista trabalhou em diversos jornais e revistas brasileiras e tornou-se conhecido e respeitado no país, depois de ter encabeçado a denúncia do assassinato do colega Vladimir Herzog, em 1975 e comandar uma manifestação com a expressiva presença de mais de 8.000 pessoas em frente à Catedral da Sé em São Paulo, exigindo do governo militar esclarecimentos sobre a morte de Herzog. Esse ato é considerado um marco histórico no processo de redemocratização do Brasil. Audálio Dantas esteve na Unisinos participando da Semana da Comunicação Social 2012, num misto de palestra e bate papo, que reuniu alunos, professores e colegas de profissão.

“Não consigo escrever, se o tema não me tocar”, assim começou o discurso de abertura do bate papo com Audálio Dantas, proferido pelo professor e coordenador do curso de Comunicação Social da Unisinos, Edelberto Behs. Depois dessa frase, muito pouco precisou ser esclarecido sobre a vida do palestrante.  Durante toda a noite de segunda-feira, tivemos uma chuva de conhecimento, de histórias de vida, de trabalho e principalmente de luta, de engajamento político e de total entrega à profissão, pela qual Audálio demonstra em seus atos e em seus fatos. O alagoano falou de forma simples e com total humildade aos alunos presentes, sobre suas principais reportagens. 

Em todas, a entrega foi total. Embrenhou-se nos lugares mais rústicos, mais selvagens, para obter dos fatos, a realidade. Contou sobre a reportagem que lhe rendeu o primeiro prêmio nacional, e que, curiosamente, recebeu um “não“ do entrevistado. Guimarães Rosa negou-lhe a entrevista, na ocasião do lançamento do livro Grande Sertão Veredas, mas o repórter, humildemente, permaneceu em torno da sessão de autógrafos e, através de tudo que ouviu e viu dirigido aos leitores, escreveu a matéria que lhe rendeu o prêmio.
Com relação à reportagem que o tornou conhecido no mundo todo, Audálio Dantas contou que passou muito tempo dentro da favela do Canindé em São Paulo, onde recebeu um diário de anotações de uma jovem moradora, Carolina Maria de Jesus, catadora de papel, e dali concebeu o livro que lhe renderia traduções em 13 idiomas, "Quarto de Despejo (O Diário deUma Favelada)”.  

Acaba de lançar mais dois livros, uma compilação de suas principais reportagens, “Tempo de Reportagem”, e outro sobre Vladimir Herzog,  “As Duas Guerras de Vlado Herzog”.



Audálio Dantas não tem formação acadêmica, mas pode ser considerado um mestre no ofício do jornalismo, assim como tantos outros que ele mesmo cita com suas referências de vida, como Joel Silveira e Euclides da Cunha. Esse “mestre” deu uma verdadeira aula de experiência, de humildade e de amor ao jornalismo a todos os presentes na primeira noite da Semana da Comunicação Social.