AudálioDantas é brasileiro, alagoano, tem 80 anos e desses, 58 dedicados ao
jornalismo. Um dos repórteres mais admirados e respeitados do
Brasil, foi presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo e o
primeiro presidente da Federação Nacional dos Jornalistas, além de
deputado federal, por um mandato. O jornalista trabalhou em diversos
jornais e revistas brasileiras e tornou-se conhecido e respeitado no
país, depois de ter encabeçado a denúncia do assassinato do colega
Vladimir Herzog, em 1975 e comandar uma manifestação com a
expressiva presença de mais de 8.000 pessoas em frente à Catedral
da Sé em São Paulo, exigindo do governo militar esclarecimentos
sobre a morte de Herzog. Esse ato é considerado um marco histórico
no processo de redemocratização do Brasil. Audálio Dantas esteve
na Unisinos participando da Semana da Comunicação Social 2012, num
misto de palestra e bate papo, que reuniu alunos, professores e
colegas de profissão.
“Não
consigo escrever, se o tema não me tocar”, assim começou o
discurso de abertura do bate papo com Audálio Dantas, proferido pelo
professor e coordenador do curso de Comunicação Social da Unisinos,
Edelberto Behs. Depois dessa frase, muito pouco precisou ser
esclarecido sobre a vida do palestrante. Durante toda a noite
de segunda-feira, tivemos uma chuva de conhecimento, de histórias de
vida, de trabalho e principalmente de luta, de engajamento político
e de total entrega à profissão, pela qual Audálio demonstra em
seus atos e em seus fatos. O alagoano falou de forma simples e com
total humildade aos alunos presentes, sobre suas principais
reportagens.
Em
todas, a entrega foi total. Embrenhou-se nos lugares mais rústicos,
mais selvagens, para obter dos fatos, a realidade. Contou sobre a
reportagem que lhe rendeu o primeiro prêmio nacional, e que,
curiosamente, recebeu um “não“ do entrevistado. Guimarães Rosa
negou-lhe a entrevista, na ocasião do lançamento do livro Grande
Sertão Veredas, mas o repórter, humildemente, permaneceu em torno
da sessão de autógrafos e, através de tudo que ouviu e viu
dirigido aos leitores, escreveu a matéria que lhe rendeu o prêmio.
Com
relação à reportagem que o tornou conhecido no mundo todo, Audálio
Dantas contou que passou muito tempo dentro da favela do Canindé em
São Paulo, onde recebeu um diário de anotações de uma jovem
moradora, Carolina Maria de Jesus, catadora de papel, e dali concebeu
o livro que lhe renderia traduções em 13 idiomas, "Quarto de Despejo (O Diário deUma Favelada)”.
Acaba
de lançar mais dois livros, uma compilação de suas principais
reportagens, “Tempo de Reportagem”, e outro sobre Vladimir
Herzog, “As Duas Guerras de Vlado Herzog”.
Audálio
Dantas não tem formação acadêmica, mas pode ser considerado um
mestre no ofício do jornalismo, assim como tantos outros que ele
mesmo cita com suas referências de vida, como Joel Silveira e
Euclides da Cunha. Esse “mestre” deu uma verdadeira aula de
experiência, de humildade e de amor ao jornalismo a todos os
presentes na primeira noite da Semana da Comunicação Social.