Calma, não vou ficar chorando lamúrias por isso. Apenas uma constatação, e não pensem que isso me traz melancolia ou saudozismos baratos. Traz ótimas lembranças, boas de lembrar e de contar, isso sim.
Na verdade, só essa semana eu me dei conta que tenho 32 anos de vida, que já fiz uma caralhada de coisas, que já pintei e bordei, até na política eu trabalhei, e o pior: acreditei.
Entra ano e sai ano e pouca coisa muda, tanto que só hoje eu percebi que estou ficando velha, e olha que já faz um tempo que isso vem acontecendo gradativamente ou degradativamente :)
Sabe o que me fez notar isso? É que eu comecei a parar e observar as garotas mais jovenzinhas que eu, ali pelos 15 e 16 anos.
Será por isso que a gente vê os mais velhos sempre com um monte de roupa, casacos, cachecol, chapéu, luva, com aqueles sapatinhos com lã por dentro sabe?
Parece que a cada período a mais de vida, a gente vai acrescentando uma peça de roupa no vestuário, sobrepondo-as enlouquecidamente, e junto com isso, a temperatura vai baixando cada vez mais ao nosso redor, fazendo a gente realmente precisar se entrouxar.Tudo coisa da minha imaginação, é obvio.
Aqui em São Léo fez 4 graus e a gurias de 15, tudo de de mini-blusa.
Puts, confesso que não tenho a mínima vontade de botar uma frestinha sequer da minha pele à mostra no inverno. Por mim, eu andava tapada até os olhos, se pudesse não deixava nem eles de fora. Mesmo.
Essas gurias têm alguma diferença de temperatura corporal do que eu? Quando elas passam por mim eu fico pensando " ...tá, e o que que elas vão usar no verão?"
Uma senhora que tava do meu lado na fila do churrasquinho tascou: "é fogo no rabo, isso sim!"
Bom, que elas querem mostrar os conteúdos pra eles é verdade. Mas vale a pena passar frio por causa de um bofezinho a mais ou a menos no currículo?
Vai saber...Fico até pensando que eu é que sou friorenta demais, que me tapo toda sem necessidade, que eu devia mudar meus hábitos pra me sentir mais rejuvenescida talvez, ah, quem sabe né, dizem que o ser humano é feito por suas atitudes...
Resolvi fazer o teste.
Me arrumei. Pouca roupa: uma calça com polainas, um blusãozinho e uma jaquetinha curta, nada de barriga de fora né meu povo, vamos combinar que a tia aqui não tá com essa bola toda, mas, achei que tava quase próximo ao exagero que eu tinha visto naquelas gurias.
Bah minha gente, ninguém merece: que frio do caramba, nem o Rodrigo Santoro vale o frio que eu passei, isso que nem tava tão frio quanto na outra noite.Nunca mais, podem me chamar de velha se quiserem...Mas quem tá se auto-intitulando velha sou eu né...ninguém me falou isso, fui eu que constatei.
Cheguei à seguinte conclusão: é tática de conquista mesmo. As tchutchucas querem mostrar a buzanfa, a barriga, o cofrinho, os peitos, tudo de mão beijada pros meninos, porque tá escasso esse negócio de homem no mundo mesmo, e mais vale um pau na mão do que dois na......mão das outras né. É concorrência moçada, vale tudo, briga de bugio, Deus nos acuda, e apague esse fogo dessas gurias pelo amor dele mesmo, e dos pais delas coitados, nem sonham...
O problema é que depois já fica tudo assim, tão explícito, tão escancarado, que perde a graça que tinha no meu tempo.
Viu? Papo de velha! "No meu tempo isso, no meu tempo aquilo..." Quantas vezes eu me peguei falando isso só nesse ano...
Mas é verdade, tudo era mais implícito, mais intrigante, mais misterioso no meu tempo. Eles tinham a maior curiosidade de saber como era a nossa busanfa, a barriga, o cofrinho, os peitos.
Não era nada de mão beijada, aliás mão beijada até rolava, mais um beijos e uma mãozinha aqui e ali depois de algumas semanas de ficação. Agora, nego chega e já vai beijando e botando a mão e pá, se rolar um química, que nem eles dizem, já vão até pro abate.
Pois é, eu descobri essa semana que estou ficando velha. Fui assistir um show e não aguentei ficar em pé o tempo todo. Dói aqui, dói ali, já não dá. Achei que o som tava alto demais, que o cantor fazia pose demais e cantava de menos.
Mas tudo bem, tem uma coisa que eu sei bem: as minhas lembranças do que foi minha juventude, dos meus 15, 16 anos, é uma coisa boa de se lembrar, boa de contar.E olha que não faz tanto tempo assim...exatamente 16 anos atrás.
Eu não precisava mostrar a busanfa, a barriga, o cofrinho e os peitos pra conquistar ninguém, bastava um bom papo, um olhar discreto e elegante, um bilhetinho ou aquela reboladinha a mais ao passar por ele, e o frio na barriga rolava, era bom, era puro. Se eu mostrasse, era tudo durinho, sem celulite, sem barriga, uma bonequinha com o verdadeiro frescor da virgindade (oh, quanto saudosismo barato...)
Ficar era só beijo na boca, carinho no rosto, andar de mão dada, aquele amasso na parede da danceteria ou da garagem, uma mãozinha boba que a gente tinha que tirar pro lado quando ia escorregando pra baixo da cintura. Mas isso eu posso contar pros meus filhos, pros meus netos ou pros meus avós, ninguém vai "ficar de cara" por ouvir.
Mas imagina uma guria de 15 ou 16, dessas de hoje, contando pras filhas ou pros avós:
- Bah filha ou bah vó, no meu tempo era assim: uma vez eu cheguei na festa com a calça legging atolada no meio da bunda com a cintura bem abaixo pra mostrar a marca do biquíni e o cofrinho, uma blusinha bem decotadinha pra todo mundo ver meu silicone e a minha barrigona bem escancarada mostrando o meu piercing (e um monte de celulite que eu adquiri só comendo no Mc Donalds), já fui logo procurando o carinha pra quem eu ia dar naquela noite, pois já tinha combinado tudo pelo msn. Olhei pra ele, ele me olhou, já foi chegando, rolou uns beijos, uns amassos, ele apertou minha bunda, pegou nos meus peitos, nos demos umas esfregadinhas ali na festa mesmo e quando já estávamos de saco cheio de dançar, fomos pro banheiro da casa da aniversariante e eu dei pra ele. Daí depois eu até fiquei com outro carinha, mas aí foi só pegação mesmo.
Diante de tudo isso, acabo de perceber que na verdade estou mesmo é na flor da idade, pois muitas dessas meninas de 15 de hoje, têm muito mais quilômetros rodados do que eu.
Acho que a velhas são elas. Eu ainda me sinto uma descobridora dos sete mares, e como é bom saber que ainda têm muita coisa boa por vir, pois eu e a minha geração não colocamos a carroça na frente dos bois.
Depois de algum tempo elas vão se dar conta que mostraram tudo assim tão de cara, tão na lata, pra eles, que eles vão querer conhecer outras e outras pra buscar coisas novas, pois ali já não haverá nada de novo pra descobrir à dois.
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